Domingo, 06 Maio 2018 20:44

Como podemos preparar melhor nossos alunos para a vida depois do Ensino Médio?

Escrito por Matt Kwiatkowski

Autor: Matt Kwiatkowski

Traduzido e adaptado: Prof. Marta Franco

Mudando o Foco: de Orientação Profissional para Orientação para uma vida com propósito. Um Chamado! 

- Pai, eu não tenho ideia do que devo fazer quando terminar o Ensino Médio, disse em 1988, ao iniciar o último ano.
- Meu filho, você, com certeza irá para a faculdade, disse meu pai com veemência. E, com certeza, deverá fazer Administração, área financeira, assim como seu irmão mais velho. Você é muito bom em Matemática.
E, assim, eu fiz, e não só isso, fui também para Taiwan, num projeto missionário, que era ao mesmo tempo trabalho missionário e um estágio na área de administração, junto com aquele meu irmão mais velho. No meu primeiro ano de Faculdade, já tinha arrumado um emprego na minha área num banco.

A minha lógica era a seguinte, se é isso que “Eu” quero fazer para o resto da minha vida, então devo colocar todo o meu esforço e minha concentração nisso.
Dois anos depois, eu estava indo mal na faculdade, envolvido numa fraternidade, não estava  mais namorando a moça com quem eu pensei que iria me casar, e parei de praticar o esporte que eu amava.
No âmago da minha desorientação estava uma visão distorcida de quem é Deus e quem Ele quer que eu seja. Eu não tinha visão de um propósito eterno. Um chamado!

Falando francamente, a minha vida girava em torno de mim mesmo. E eu não estava sozinho! A maioria dos formandos não tinha a mínima ideia do que os esperava na vida após o Ensino Médio. Afirma-se que entre 20 -50% dos alunos que iniciam a faculdade nos Estados Unidos não sabem em que área irão se formar, e 75% dos que sabiam, mudaram de área antes de se formarem (Gordon, 1995). Indo um pouco mais fundo, aqueles que sabiam a faculdade que cursariam e em que se formariam tomaram suas decisões devido a:

  • influência da família e colegas,
  • o mercado de trabalho disponível e o nível de salário,
  • interesse no assunto,
  • pressuposições obtidas em cursos introdutórios. (Beggs, Bantham, e Taylor 2008)

De acordo com Liz Freedman, da Universidade Butler (2013), o número de alunos que tomam essa decisão tão importante na vida, baseando-se nessas generalidades e pressuposições é alarmante.
As Universidades e faculdades têm desenvolvido serviços de suporte aos alunos “indecisos” e descobriram que estão despreparados quando declaram a carreira e ou curso que escolheram seguir (2013). Nas Universidades estaduais, existe o mesmo problema, e todos concordam - ser capaz de escolher um caminho no qual o sujeito irá permanecer, requer conhecimento de si e do mundo profissional.

 

O que nós, das escolas cristãs, estamos fazendo para preparar nossos alunos formandos?

Como educadores cristãos, nós estamos lá meramente para ajudar o aluno a escolher uma faculdade ou uma carreira? Ou, uma vez que “somos feitura sua, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef. 2.10,  ACF) e “feitos para andar de modo digno da vocação com que fomos chamados”(Cf. Ef. 4.1), estamos intencionalmente criando oportunidades para nossos alunos conhecerem e vivenciarem Aquele que os criou de forma única e singular? Estamos identificando os passos que os levarão na direção do chamado especial que Cristo tem preparado para eles?

Segundo a missão das Escolas Cristãs Delmarva, o papel das escolas cristãs é preparar alunos através da proclamação do evangelho, espiritual, acadêmica, e fisicamente para conhecerem e fazerem a vontade de Deus em suas vidas. No âmago dessa declaração está a ideia de chamado.

Nos últimos três anos, temos deliberadamente mudado a ideia tradicional de orientação profissional para uma abordagem de construção da fé de nossos alunos em que todas as disciplinas, projetos, esportes, grupos de louvor, atividades extracurriculares, serviço comunitário são colocados por Deus  a fim de prepará-los para serem os embaixadores daquele que os criou. (2 Cor. 5.20).

Viver de acordo com o chamado de Deus requer uma abordagem integrada que conecta todas as coisas para o aprendizado e experiência dos alunos e os prepara para confiar em Deus no desenvolvimento de seus interesses, desejos, e no conjunto de habilidades e competências necessárias ao Seu propósito.

 

Construindo a Fé

O programa de Bíblia das Escolas Cristãs Delmarva, (Ensino Religioso) serve como eixo condutor dessa abordagem, desse preparo para uma vida chamada por Deus.  No segundo ano do ensino médio, a escola oferece o curso Chamado Bíblico para a Vida (CBPV). Nesse curso, estudam-se as cartas de Paulo que mostram o chamado que os cristãos têm para usar seus talentos e pontos fortes para servir a Deus como parte da Grande Comissão. Já os formandos, os alunos do último ano, cursam Apologética com o propósito de serem preparados para saberem defender a fé cristã, em meio a uma cultura que se opõe à verdade, desafia as autoridades, e perdeu o propósito, o sentido da vida. Ao final do ano, como trabalho de conclusão de curso (TCC), os alunos devem escrever uma tese em que demonstram e integram seu aprendizado desses cursos.

 

Desenvolvimento profissional dos professores

A fim de poderem ministrar o curso de CBPV, estarem familiarizados com o vocabulário específico e preparados para ensinar do 9º ao último ano do Ensino Médio, todos os professores tiveram que fazer o curso intensivo sobre “Como Viver uma Vida com Propósito” como parte de seu desenvolvimento profissional.

Na escola usamos o material do Instituto Ron Blue- Vida com Chamado. Para podermos fazer isso, semanalmente tiramos um dia em que a escola começa mais tarde para esse treinamento, além de algumas vezes em que tiramos o dia todo para essa capacitação ao longo do ano letivo. Isso também proporciona uma integração curricular mais fácil entre as séries e disciplinas e também nas experiências “não acadêmicas” que foram desenvolvidas pelos professores, voltadas para aquelas turmas, tendo em vista seus pontos fortes, habilidades e suas “paixões”.

Estamos, continuamente, analisando os resultados para descobrir os possíveis impactos dessa nova abordagem, ou seja, avaliamos os cursos e faculdades que os alunos têm escolhido, aplicação imediata do seu aprendizado e o feedback dos alunos. Nossos resultados iniciais confirmaram que muitos de nossos alunos ingressam no Ensino Médio despreparados.  

  • 8% não sabem quais são seus pontos fortes.
  • 14% não tinham pensado que Deus tem um chamado único para suas vidas.
  • 7% não sabem em qual carreira seguirão.
  • 5% acreditam que o salário é a melhor coisa a considerar quando vão escolher a carreira que seguirão.

No entanto, como resultado desse novo enfoque os alunos estão saindo engajados com maior confiança e esperança no futuro. Podemos constatar esse resultado na fala de nossos formandos: “Eu me sinto extremamente confiante em meu futuro hoje. A faculdade era um assunto grande na minha vida, e eu tentava evitar falar sobre, porque todos pareciam saber o que era melhor para mim, menos eu. Outro aluno compartilhou com toda confiança, “Eu acho que estou mais consciente e fui despertado sobre um chamado egoísta, centrado em mim”. E, finalmente, outro aluno relatou, “Nesse curso aprendi muito sobre eu mesmo e fui desafiado a avaliar  o meu chamado em cada estágio da minha vida.”

 

Mudando de mentalidade

Olhando para trás, eu creio que parte da minha visão pessoal de vida ao terminar o Ensino Médio foi necessária. Ter uma experiência local e no exterior na minha área de escolha profissional original, foi estratégica para aumentar minha experiência no mundo profissional. No entanto, aquilo que eu pensava que eu seria, e que iria fazer pelo resto de minha vida, se perdeu. Agora, como educador cristão, estou convicto de que a maior coisa que podemos fazer para preparar nossos alunos ao se formarem em nossas escolas é ajudá-los a mudar de mentalidade sobre essa questão: “O que Deus quer que eu faça com o resto de minha vida”?

Para isso nossos alunos precisam conhecer e entender Aquele que os criou, amou, e se sacrificou por eles. E, aí, então,  entender que a resposta a essa pergunta não será obtida através de generalidades ou pressuposições, mas será única e será clara pelo poder da verdade de Deus (Sl. 25.5). Mesmo porque, nossa vida não é sobre nós mesmos, tem tudo a ver com Ele. Viver a vida cumprindo aquilo para o qual fomos chamados é uma abordagem educacional que é o reflexo de - e fiel a – essa realidade, aquilo que dizemos que somos como escola cristã.

Ações a serem tomadas

O que você nos diz sobre esse desafio?

  1. Conduza uma pesquisa (tipo auditoria) entre seus alunos sobre suas escolhas de vida após a conclusão do Ensino Médio. Isso pode incluir dados quantitativos (ex: porcentagem de alunos que terminam a faculdade, porcentagem de alunos que não fizeram faculdade, alunos que mudaram de faculdade, faculdade pública ou privada, áreas de formação, instituições cristãs versus não cristãs, se houver em sua cidade ou seu país) ou o que for pertinente à sua localidade e realidade onde sua escola cristã está inserida. Faça levantamento também de um banco de dados qualitativo (entrevistas, pesquisas entre professores e alunos usando questões abertas como “O que você considera importante ao fazer uma decisão a respeito da vida após o Ensino Médio?).
  2. Analise e discuta os resultados com a diretoria da sua escola, membros do corpo docente, capelania da escola, orientadores profissionais, e membros chaves da liderança do conselho diretivo.
  3. Conduza uma auditoria semelhante sobre como e onde o currículo da escola e co-currículo abordam esse assunto sobre a vida após o ensino médio, direta e indiretamente. Será bom elaborar um mapa visual das experiências dos alunos e aprendizado nessa área em todo o Ensino Médio.  
  4. Use os resultados obtidos nas pesquisas #1, #2 e #3 como plataforma de discussão e como fazer a implementação estratégica de um ensino que verdadeiramente leva os alunos a buscarem o chamado de Deus para suas vidas, pode ser de benefício para sua escola e a vida de seus alunos.

Referências

Gordon, V. N. 1995. The undecided college student: An academic and career advising challenge (2nd. Ed) [O aluno da facudade indeciso: Um desafio para o orientador profissional] Springfield, IL: Charles C. Thomas.

Beggs, J., J. Bantham, and S. Taylor. 2008. Distinguishing the factors influencing college students ’choice of major. [Identificando os fatores que infuenciam os alunos nas escolhas do curso no Ensino Superior] Student Journal, 42(2), 381 – 394.

Freedman L. 2013. The Developmental Disconnect in Choosing a Major: Why Institutions Should Prohibit Choice until Second Year. [Desenvolvimento desconectado na escolha da faculdade: Por que as Instituições deveriam proibir escolha até o segundo ano da faculdade] The Mentor, an Academic Advising Journal.

Texto original: https://blog.acsi.org/preparing-students-for-life-after-high-school?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_content=life-calling

 

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