O que Celebrar na Escola Cristã? Reflexão sobre Datas Comemorativas

 

Em meio ao calendário escolar, um dos maiores dilemas enfrentados por escolas cristãs é decidir o que celebrar — e como celebrar. Em uma cultura marcada por datas tradicionais e expectativas familiares, muitas instituições acabam absorvendo festas que não necessariamente refletem os princípios cristãos. Isso é especialmente visível no meio do ano, quando celebrações como as festas juninas ou julinas dominam a agenda educacional. A escola cristã, no entanto, precisa responder com discernimento: toda escolha curricular — inclusive as comemorativas — deve glorificar a Deus, sustentar o aprendizado e formar discípulos. 

  1. O que a escola ensina quando pausa a agenda para comemorar?

Toda celebração carrega uma pedagogia. Ao pausar as atividades regulares para investir tempo, energia e recursos em um evento, a escola está afirmando: “Isso é importante demais para ser ignorado”. Por isso, antes de perguntar “é possível adaptar?”, a pergunta mais honesta e bíblica é: “Isso comunica Cristo, edifica a igreja, fortalece o conhecimento e forma caráter?” 

A escola cristã vive diante da face de Deus e tudo o que faz deve expressar reverência, sabedoria e propósito. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10.31) 

Quando a escola celebra, ela está formando o imaginário dos alunos, estruturando o senso de tempo e ajudando-os a interpretar o mundo. Por isso, celebrações que comunicam virtudes, memória redentiva, marcos da história cristã ou eventos relevantes do ponto de vista pedagógico podem ser oportunidades riquíssimas de formação. Por exemplo, celebrar a Reforma Protestante com um projeto interativo, ou criar uma Semana da Criação, conectando o conhecimento científico ao relato bíblico, são formas de enriquecer a compreensão do aluno sobre Deus e o mundo. 

  1. Um banco de três pés: discernimento pedagógico com equilíbrio

Ao avaliar a inclusão de uma data comemorativa, a escola cristã pode se valer de um critério tríplice, comparável a um banco de três pés. Quando um desses “pés falta”, o assento se torna instável — e o resultado é um evento que compromete mais do que contribui. São eles: 

  • Teológico: Honra ao Senhor 
    O evento comunica os atributos de Deus, a redenção em Cristo e os princípios da fé cristã? Ele reforça o que a escola acredita sobre a soberania de Deus e o papel da educação no Reino? 
  • Acadêmico: Rigor e relevância 
    O projeto complementa o currículo e aprofunda o conteúdo estudado ou apenas interrompe a rotina? É possível integrar a comemoração ao plano de ensino com objetivos claros e mensuráveis? 
  • Formativo: Virtudes e identidade 
    Essa experiência contribui para o desenvolvimento espiritual, emocional e intelectual dos alunos? Estimula o senso de comunidade e o entendimento do tempo como dom de Deus? 

Uma boa celebração está firmada nesses três pilares. Um evento que é "bonito", mas teologicamente vazio ou desconectado do currículo, pode ser um desperdício de tempo e uma distorção de propósitos. 

  1. Quando a escola vive de eventos

É comum encontrar escolas cuja agenda pedagógica gira em torno de eventos. À primeira vista, isso parece estratégico: movimenta redes sociais, envolve as famílias, gera empolgação. Mas por trás pode haver cansaço, fragmentação do conteúdo, superficialidade e esgotamento da equipe. A escola começa a “viver de evento em evento”, deixando de lado o essencial: formar discípulos que pensem, amem e vivam para Cristo. 

A escola cristã precisa resistir à ideia de que todo mês deve haver uma nova atividade comemorativa. Em vez disso, pode estabelecer eventos fixos por segmento ou série. Por exemplo: o 2º ano celebra o "Dia da Criação", o 5º ano organiza uma Feira da Reforma, o 9º ano promove um Série Histórica sobre Cristãos que Transformaram o Mundo. Isso gera expectativa, organiza melhor o trabalho docente, permite aprofundar conteúdos e reduz a sobrecarga logística da coordenação pedagógica. 

  1. Atenção às festas de meio de ano

Não podemos ignorar que muitas escolas cristãs se veem pressionadas a adaptar as festas juninas ou julinas com novos nomes como "festa da colheita", "festa caipira" ou "festa da roça". A mudança de rótulo, contudo, não transforma o conteúdo. Ser uma escola cristã é assumir posicionamentos claros, não apenas estéticos. Se a motivação não for a glória de Deus e a formação bíblica dos alunos, não há coerência em manter o evento. 

É preciso perguntar: o tempo gasto com ensaios, decorações, figurinos e apresentações está sendo bem investido? Estamos formando alunos no conhecimento de Deus e nos conteúdos acadêmicos — ou distraindo-os com celebrações que, embora visualmente atrativas, não sustentam a missão da escola cristã? 

Por outro lado, se a escola cristã consegue organizar sua agenda de maneira intencional para incluir a "Festa da Colheita", por exemplo, que respeite o critério dos três pés — teológico, acadêmico e formativo —, isso se torna uma excelente oportunidade. Não apenas para envolver a comunidade escolar, mas para apresentar publicamente os diferenciais de um ensino centrado em Cristo, que integra conhecimento, virtude e adoração. Uma celebração com esse perfil pode se tornar um poderoso testemunho da identidade cristã da escola, revelando que é possível ensinar com propósito eterno também por meio da cultura escolar e das festas. 

  1. Celebrações que glorificam e ensinam

Celebrar não está errado. Muito pelo contrário: a Escritura está repleta de festas, memoriais e atos comunitários que celebravam a fidelidade de Deus, a provisão, o livramento e a redenção. O problema não está na festa, mas no foco da festa. Uma escola cristã pode e deve celebrar — mas com discernimento, propósito e reverência. Toda celebração deve ser um ato de adoração, um momento de aprofundamento intelectual e uma oportunidade de fortalecer a comunhão da comunidade escolar. Quando os três pés estão presentes — teologia, aprendizado e formação —, o resultado é um evento que edifica e alegra. 

Conclusão 

A agenda de uma escola cristã deve ser resultado de convicções e não de conveniências. As festas (eventos) não são neutras. Elas transmitem valores, constroem imaginário e formam identidade. Escolher com critério o que celebrar — e o que não celebrar — é uma das marcas de uma escola que entende sua vocação: ensinar com fidelidade à Escritura, rigor acadêmico e compromisso com o Reino de Deus. 

Que cada escola cristã tenha sabedoria para decidir com coragem, temor e alegria. E que, em cada data, projeto e evento, os alunos, professores e pais aprendam que o tempo, a cultura e a vida só fazem sentido quando Cristo é o centro.