O Halloween e a importância de manter distância do perigo

 

Hoje, gostaria de compartilhar uma reflexão sobre um tema que tem gerado discussões em muitas escolas cristãs: a comemoração do Halloween. Antes de entrarmos no assunto, permita-me contar uma história. Conhece o conto O Cocheiro do Rei? 

Esta narrativa se passa em um reino distante, onde o cocheiro real faleceu, e os serviçais do rei decidiram abrir um concurso para encontrar seu substituto. Muitos homens se apresentaram, demonstrando suas habilidades na condução da carruagem real. Após várias seletivas, restaram apenas três candidatos, e o teste final seria realizado na presença do rei, dentro da carruagem, em um percurso que incluía um precipício.  

No dia da prova, o primeiro candidato se destacou. Ele acelerou e, a 500 metros do precipício, conseguiu frear, mostrando sua destreza e garantindo a segurança do rei. O segundo candidato, mais audacioso, acelerou ainda mais e freou a 300 metros do abismo, para alívio de todos. Mas foi o terceiro candidato quem realmente impressionou. Ele partiu com a carruagem e, antes mesmo de se aproximar do precipício, freou e alterou sua rota, afirmando: “A vida do meu rei é muito preciosa. Do abismo, eu quero distância”. Com essa atitude, ele demonstrou que não se deve flertar com o perigo, e por isso foi escolhido como o novo cocheiro real.  

Assim como na história, muitas vezes nos deparamos com situações em que é necessário tomar decisões que garantam a segurança da missão e visão da escola cristã. Diante desse quadro, alguns educadores têm se questionado sobre a possibilidade de celebrar o Halloween, por isso é essencial que nos aprofundemos na origem e na cultura que cercam essa celebração.  
 
O Halloween, que é associado a temas de morte, medo e travessuras, é o oposto dos princípios da nossa fé cristã. Precisamos reconhecer que não se trata apenas da festa (fantasias); é uma ocasião que pode levar nossas crianças a se aproximarem de conceitos e práticas que não estão alinhados com a nossa missão de preservar a vida, a fé e a cultura cristã.  

Como cristãos, somos chamados a zelar por nossa identidade e a nos afastar de tudo que possa nos desviar do caminho que Deus nos traçou. Precisamos manter distância do abismo, assim como o cocheiro sábio, que entendeu que a segurança do rei vinha em primeiro lugar. Nossa cultura é de alegria e vida, não de medo e tristeza.  

Devemos sempre nos lembrar do que a Palavra de Deus nos ensina em Romanos 12:2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Ao nos afastarmos de celebrações como o Halloween, que podem distorcer a realidade da vida e da fé, reafirmamos nosso compromisso em cultivar um ambiente que promove os valores da verdade, da esperança e do amor cristão.  

Em vez de enfatizar o medo e a escuridão que permeiam essa festividade, podemos promover eventos que celebrem a bondade de Deus e a alegria que vem de viver em Sua presença. Ao direcionarmos nosso foco para atividades que glorifiquem a Deus, ajudamos nossos alunos a desenvolverem uma identidade forte e saudável, enraizada em Sua verdade e amor. Existem inúmeras formas de celebrarmos com alegria e criatividade, promovendo atividades que edifiquem nossas comunidades e fortaleçam os laços entre os irmãos.  

Além disso, ao abordarmos o Halloween com uma perspectiva de afastamento, podemos, com sabedoria, ensinar nossos alunos sobre a importância de discernir entre as práticas culturais e os valores cristãos. Esse é um momento oportuno para promover diálogos sobre a nossa identidade em Cristo e o impacto que as influências externas podem ter sobre nossa cosmovisão. Através de estudos bíblicos, debates e atividades interativas, podemos educar nossos jovens sobre como fazer escolhas que honrem a Deus, mostrando que há alegria em viver de acordo com os princípios do Reino. Essa abordagem reforça nossos pilares da fé e prepara os alunos para serem luz em um mundo que muitas vezes promove o que é contrário à verdade e à vida que encontramos em Cristo. 

Como ACSI, incentivamos as escolas cristãs a refletirem sobre a importância de preservar o que é bom e verdadeiro, mantendo os alunos e suas famílias afastados de práticas que não contribuem para o crescimento espiritual e a formação de caráter. Vamos proteger e preservar a vida, a cultura e os ensinamentos que o Rei nos confiou, lembrando sempre que o verdadeiro propósito de nossa celebração é glorificar a Deus.  

Por fim, convido todos a pensarem com carinho sobre a questão do Halloween em suas escolas e a buscarem caminhos que estejam mais alinhados com os valores cristãos que desejamos transmitir. Vamos juntos construir um ambiente seguro e edificante para nossas crianças.

 

 

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DILEAN MARTINS

Diretora Pedagógica - ACSI BRASIL

Evitando se Perder nos Detalhes: Reflexões sobre Ensinar de Maneira Cristã

 

Eu sou péssimo em golfe. Honestamente, nem deveria me chamar de golfista. Pratico tão raramente—quase nunca—que não é surpresa eu ser terrível nisso. Se alguém fosse descrever meu desempenho no golfe, a frase "perdido no mato" certamente se aplicaria. Na última vez que joguei, passei mais tempo fora do campo do que no caminho certo, e muito disso foi, literalmente, no mato. Pelo menos três bolinhas brancas se perderam ali naquele dia. Mas aqui está a verdade: se eu não estiver disposto a praticar, não é de se estranhar que eu nunca melhore no golfe.

Talvez possamos fazer uma afirmação semelhante sobre o ensino. Ensinar é algo que melhoramos com a prática! Há um tipo de refinamento consciente que a maioria dos professores passa nos primeiros anos de profissão. Testamos abordagens, experimentamos, cometemos erros, aprendemos com eles, recebemos orientação, buscamos apoio e aprimoramos nossa prática para melhorar. Podemos nos perder nos detalhes de vez em quando, mas com atenção e cuidado, começamos a acertar o alvo cada vez com mais frequência.

E quanto ao ensino cristão? Às vezes nos perdemos nos detalhes quando se trata de práticas educacionais informadas pela fé? Quero encorajá-lo, caro colega, a reservar um tempo agora para refletir sobre isso e se comprometer a praticar, para não se perder no caminho!

 

O que quero dizer com "ensinar de maneira cristã"? Um pequeno lembrete gramatical pode ser útil aqui.

Lembre-se de que os substantivos são pessoas, lugares, coisas ou ideias. “Cristão” é certamente um substantivo! E acredito que a palavra funciona melhor como tal: "cristão" literalmente significa "pequeno Cristo". Isso me lembra a bela história da Igreja primitiva relatada em Atos 11:19-30, que inclui este detalhe importante: "Os discípulos foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia". Os crentes de Antioquia eram tão semelhantes a Cristo que as pessoas ao redor deles lhes deram um nome intencional: cristãos. E eu também reivindico esse nome—quando me chamo cristão, estou fazendo uma profissão de fé; estou dizendo: “Estou tentando ser um pouco mais como Jesus a cada dia!”

Mas "cristão" também pode funcionar como outras partes do discurso. Por exemplo, "cristão" pode servir como adjetivo, usado para descrever substantivos. Assim, podemos falar de uma igreja cristã, um livro cristão ou um carpinteiro cristão. Talvez também possamos descrever uma escola cristã, um professor cristão ou uma educação cristã.

No entanto, pergunto-me: o que exatamente queremos dizer quando descrevemos algo como "cristão"? Por exemplo, o que queremos dizer ao descrever uma escola como cristã? Isso significa que a escola é mantida por uma igreja ou denominação? Que os professores são todos cristãos? Que o currículo está alinhado a uma cosmovisão bíblica? Que atividades devocionais, aulas de Bíblia e cultos fazem parte do ritmo do dia escolar? Que o principal objetivo da escola é formar alunos como discípulos? Talvez várias dessas descrições estejam em operação simultaneamente em uma "escola cristã".

Podemos fazer perguntas semelhantes ao aplicar "cristão" para descrever o professor ou o ensino que ocorre nessa escola. O que faz de um "professor cristão"? O que caracteriza um "ensino cristão"? O desafio é que o adjetivo "cristão" é descritivo, mas pode ter muitos significados possíveis, tornando o uso um pouco vago.

Isso me leva a pensar nos advérbios. Lembre-se de que advérbios descrevem verbos e indicam quando, onde ou como as ações acontecem, e muitas vezes terminam em “-mente”. Portanto, podemos considerar a forma advérbial da palavra “cristão” ao acrescentar “-mente”: cristãmente. Fazer algo cristãmente significa fazer de um modo que ilustre que você está buscando ser como Jesus.

É por isso que eu amo tanto a ideia de ensinar cristãmente: ela me aponta uma direção, dizendo que meu trabalho no ensino faz parte de viver meu discipulado, uma aplicação essencial de como estou me esforçando para ser como Jesus. Ensinar cristãmente é uma questão do coração, uma profunda convicção de que meu trabalho, ao ensinar, é uma maneira de amar ao Senhor com todo o meu coração, alma, mente e força, e amar o próximo como a mim mesmo (veja Marcos 10:28-31).

Há um verdadeiro desafio aqui, no entanto. É relativamente fácil dizer: “Vou seguir a Jesus no meu trabalho como professor”. Na verdade, é muito mais difícil fazer isso! Permita-me oferecer três palavras de encorajamento para aqueles dedicados a esse tipo de ensino cristão.

 

  • Primeiro, ensinar cristãmente significa reconhecer que Cristo é soberano sobre todas as coisas, incluindo sua sala de aula. Se Jesus é Senhor, Ele é Senhor de tudo, e devemos trabalhar para construir Seu reino, mesmo em nosso trabalho diário como professores. Jesus se importa com como você organiza as carteiras em sua sala de aula, como avalia os alunos, e como interage com alunos, pais e colegas. Ser intencional e cuidadoso em todas essas pequenas ações cotidianas é uma expressão tangível de seu compromisso em viver sua fé.
  • Segundo, ensinar cristãmente significa viver nosso discipulado dia após dia. Nossa vocação como discípulos é um chamado diário; o próprio Jesus disse: “Quem quiser ser meu discípulo deve negar-se a si mesmo, tomar diariamente a sua cruz e seguir-me” (Lucas 9:23). Não faremos isso perfeitamente, mas a boa notícia é que podemos continuar tentando.
  • Finalmente, lembremo-nos de que ensinar cristãmente não é uma obrigação; é uma oportunidade! Temos a alegre chance de expressar nosso amor por Jesus através de nossas aventuras diárias na pedagogia. Em termos práticos, penso nisso como usar os dons e talentos que Deus nos deu, ao máximo de nossa capacidade, para Sua glória, todos os dias.
 

Ensinar cristãmente é uma coisa incrível e desafiadora. Verdadeiramente, é um alto chamado! Pode ser fácil se perder nos detalhes quando começamos a pensar em quanto nossa fé pode e deve impactar nosso ensino; mas sejam encorajados, amigos. O trabalho diário de ensinar cristãmente é uma oportunidade para viver nossa fé e praticar o seguir a Jesus. Louvado seja Deus por nos convidar a participar da construção de Seu reino, dia após dia!

 

 

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Sobre o autor:

O Dr. Dave Mulder é Professor de Educação na Universidade Dordt. Ele ministra cursos de fundamentos educacionais, educação STEM e tecnologia educacional, além de ser o presidente do departamento de Educação. Coapresenta o podcast Hallways Conversations e oferece experiências de desenvolvimento profissional para educadores em escolas na América do Norte. É também palestrante no Instituto de Escolas Florescentes da ACSI.

Prioridades para a liderança cristã

 

Para os líderes educacionais, os meses de inverno são uma época única do ano. Os administradores estão finalizando a equipe e as prioridades educacionais para o segundo semestre letivo. A cada inverno, acho valioso reservar um tempo para me examinar — particularmente em resposta a esta pergunta: "Como tenho administrado a responsabilidade que Deus me deu como líder cristão?" Ajuda se você tiver uma avaliação separada para fornecer alguma orientação fora de sua própria autopercepção, mas mesmo um tempo de consideração em oração pode ser extremamente valioso à medida que buscamos crescer e nos desenvolver nos líderes que Deus nos chamou para ser.

Para os cristãos, acredito que as prioridades da liderança são únicas, guiadas pelo alto chamado que Deus colocou sobre nós. Há três áreas que acredito que devem subir ao topo da lista ao avaliar como nós, como seguidores de Jesus, lideramos.

 

A prioridade do caráter
Primeiro, a liderança cristã deve ser marcada pelo caráter. Enquanto o mundo dá importância ao caráter e à integridade, para o líder cristão, o caráter não é apenas uma prioridade, mas a base. Com o coração pesado, li que o clero atingiu um recorde histórico na pesquisa de ética e honestidade de 2023 da Gallup. Além disso, parece que a cada dia há um novo relatório detalhando as falhas morais dos líderes cristãos. Alguns dos líderes cristãos mais proeminentes e visíveis mais uma vez caíram em desgraça, arrastando seus ministérios, colegas de trabalho e o nome de Jesus com eles.

Vivemos em um mundo caído, e os esquemas do inimigo não são apenas reais, mas mortais e visam a destruição máxima. Permitir o pensamento de que alguém é imune à tentação e ao fracasso é arrogância. Duas máximas devem dar um aviso aos líderes cristãos. Um das escrituras: “O orgulho precede a destruição, e o espírito altivo precede a queda” (Provérbios 16:18), e um atribuído a Lord Acton: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente.”

Liderança e poder estão irrevogavelmente conectados, e como um líder administra o poder e a influência que lhe foram concedidos é um marcador definitivo de seu caráter. A perfeição nesta área é, como acontece com todas as virtudes morais, impossível deste lado do céu, e erros e falhas estão fadados a ocorrer. No entanto, falhas catastróficas nessas áreas impactam não apenas a comunidade cristã em geral, mas também difamam o nome de Cristo.

É crucial que os líderes cristãos mantenham uma atitude de humildade quando se trata de sua liderança. É Deus quem concedeu os dons, bem como a capacidade de crescer e desenvolver esses dons. As escrituras nos dizem que todo dom bom e perfeito vem do Pai das luzes celestiais, e o dom da liderança não é exceção. Talvez os líderes cristãos fizessem bem em implementar a prática de Marco Aurélio. Dizem que o imperador romano teria um servo seguindo-o, e quando as multidões o elogiavam e gritavam seus elogios, o servo sussurrava continuamente em seu ouvido: "Você é apenas um homem... você é apenas um homem", para que seu poder não lhe subisse à cabeça. Mais do que nunca, precisamos de líderes cristãos que sejam pessoas de grande caráter e que entendam que um bom nome é mais desejável do que uma grande riqueza (Provérbios 22:1).

 

A prioridade da caridade
Segundo, a liderança cristã deve ser marcada pela caridade bíblica. Muitas vezes, a palavra caridade é mal interpretada e pensada apenas em termos de dar dinheiro. Mas o termo bíblico se refere a um amor incondicional. Eu pessoalmente acredito que os líderes cristãos são responsáveis ​​pelas pessoas que lideram. Aqui, novamente, o princípio da mordomia se aplica. Jesus modelou a liderança servil lavando os pés de seus discípulos e amando-os incondicionalmente, mesmo quando eles não estavam agindo como ele esperava que agissem. Da mesma forma, os líderes cristãos são responsáveis ​​por pastorear e cuidar das pessoas que lideram.

Caridade significa pelo menos duas coisas aqui. Primeiro, é entender e ver os membros da sua equipe com uma cobertura de graça. Devemos perceber que nem todo mundo vai acertar o tempo todo. As pessoas vão cometer erros. As pessoas vão deixar a bola cair. Mas a liderança cristã está tirando o peso disso sobre seus ombros e caminhando por essas situações com amor e graça, buscando ajudar e fazer as pessoas crescerem por meio dos erros inevitáveis, reconhecendo a dignidade inerente que cada pessoa tem como um ser humano projetado e feito à imagem de Deus.

O segundo é o que eu chamaria de bondade. Muitas vezes, as pessoas querem ser gentis, para suavizar as coisas para que as pessoas não fiquem ofendidas ou bravas. Mas ser verdadeiramente bom não é necessariamente o mesmo que ser legal. A caridade exige que sejamos bons e gentis, mas às vezes um líder deve falar coisas duras para as pessoas ouvirem, e essas ações podem nem sempre ser percebidas como legais. A bondade neste sentido não dá a um líder licença para palavras duras ou linguagem humilhante, mas exige ter conversas duras quando elas são necessárias. Novamente, as escrituras nos dão orientação: “Fale a verdade em amor” (Efésios 4:15).

 

A prioridade da coragem
Finalmente, a liderança cristã deve ser marcada pela coragem. Hoje, vivemos em um mundo onde a cosmovisão cristã está sob severo ataque. As palavras do apóstolo Paulo descrevem a experiência do líder cristão hoje: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; estamos perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Coríntios 4:8-9). A natureza de nossas circunstâncias e do mundo em que vivemos exige coragem.

Lembro-me dos filhos de Issacar em 1 Crônicas 12. A passagem os descreve como homens poderosos que estavam se reunindo para apoiar Davi na batalha. Diz que eles entendiam os tempos e sabiam o que fazer. Não apenas isso, eles tiveram a coragem de agir e vir apoiar Davi em seu momento de necessidade. Hoje, precisamos de líderes que reconheçam os tempos em que vivemos, que saibam o que fazer e que possuam a coragem de liderar dentro e através dessas batalhas espirituais.

Adoro a citação de CS Lewis, que diz que a coragem é a virtude no ponto de teste de todas as virtudes. Sempre que somos confrontados com uma escolha de virtude, coragem é o que precisamos para escolhê-la. Coragem para dizer o que precisa ser dito, embora seja impopular ou contracultural. Coragem para permanecer nas convicções de nossa fé. Coragem para olhar para dentro e examinar as profundezas de nossos próprios corações. Não há espaço para covardia na liderança cristã e, embora sejamos frequentemente confrontados com dificuldades e desafios — alguns mais difíceis do que outros — devemos ter a coragem de seguir em frente, guiados pelo Espírito de Deus.


Conclusão
Não me lembro de escrituras nos dizendo que seguir Jesus seria fácil. Não me lembro de Jesus dizendo que não seríamos testados. Não me lembro de nenhum dos heróis bíblicos vivendo uma vida de conforto e facilidade. Na verdade, o oposto é verdadeiro. Então, por que deveríamos esperar ou esperar que a vida de fé e o chamado de Deus sejam diferentes para nós? Como sempre foi, nosso mundo precisa de líderes cristãos que sejam pessoas de caráter, pessoas de caridade e pessoas de coragem.

 


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Sobre o autor:

O Dr. Jeff Bogaczyk possui mestrado em Liderança e doutorado em Retórica, ambos pela Duquesne University. Ele atuou em liderança educacional por mais de 13 anos e é o atual Diretor da Escola Christian Life School em Kenosha Wisconsin. 

 

 

Saúde mental dos adolescentes: programa de prevenção e conscientização nas escolas

 

"Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." — 2 Timóteo 1:7 

Saúde mental e bem-estar não são conceitos novos. Embora a Escritura não use o termo "saúde mental", somos lembrados ao longo da Bíblia sobre o desejo de Deus que tenhamos paz e “que lancemos sobre Ele todas as nossas ansiedades” (1 Pedro 5:7) e ainda que “não andemos ansiosos por coisa alguma” (Filipenses 4:6). No mundo de hoje, marcado por traumas, feridas e estresse, experimentar paz de espírito e saúde mental plena pode ser mais fácil falar do que viver. De acordo com o relatório de tendências de 2021 da American Psychological Association, a América está enfrentando uma crise de saúde mental. Os números podem ajudar a descrever a crise que enfrentamos.  

  • Em 2020, 4,1 milhões de adolescentes de 12 a 17 anos tiveram pelo menos um episódio depressivo grave.  
  • No mesmo grupo etário, 3 milhões de adolescentes (12%) tiveram pensamentos sérios de suicídio, 1,3 milhão (5,3%) fizeram um plano de suicídio e 629 mil (2,5%) tentaram o suicídio (SAMHSA Releases 2020 National Survey on Drug Use and Health, 2021).  
  • Nos primeiros 10 meses de 2020, houve um aumento de 151% em ideação suicida, tentativas de suicídio e autolesão entre adolescentes de 10 a 14 anos.  
  • As lutas com ansiedade generalizada e transtornos de ansiedade específicos mais do que dobraram durante a pandemia, aumentando o sofrimento psicológico dos jovens (Fortuna et al., 2023). 

O suicídio é a segunda principal causa de morte entre crianças de 10 a 14 anos e a terceira entre a faixa de 15 a 24 anos (NCIPC-Suicide-FactSheet). Essas estatísticas devem nos preocupar, pois sabemos o quanto Deus valoriza cada um de Seus filhos. 

  

COMO EDUCADORES, O QUE PODEMOS FAZER?  

Prevenção ao suicídio é um assunto que muitas vezes evitamos discutir. É complicado, pessoal e, se formos honestos, um pouco assustador. Mas essas coisas não devem nos impedir de ter um plano em vigor. Nossas escolas e nossos alunos não estão isentos da crise atual. Estudos demonstraram que alguns programas de prevenção ao suicídio nas escolas podem ser eficazes não apenas na criação de consciência e conhecimento sobre o suicídio, mas também na redução do número de tentativas de suicídio entre os alunos em risco (Katz et al., 2013).  

Um outro ponto positivo dos programas de prevenção ao suicídio é educar os alunos sobre o comportamento de busca por ajuda para si mesmo ou para um amigo. Incentivar os alunos a identificarem adultos de confiança dentro e fora da escola é fundamental. Programas de prevenção ao suicídio são úteis não apenas para os alunos, mas também para a equipe. Educar a equipe e fornecer políticas, procedimentos e recursos é benéfico para aumentar a conscientização entre os adultos na escola. Professores e funcionários devem ser treinados para reconhecer os sinais de suicídio e saber o que fazer se uma situação surgir. Embora eles possam não ter treinamento clínico, eles são os "porteiros" que frequentemente ouvem as necessidades ou preocupações dos alunos em primeira mão. O treinamento dá aos professores as ferramentas e os recursos de que precisam para lidar com situações com um pouco mais de confiança e conhecimento do que fazer em uma crise que envolva ideação suicida ou uma tentativa (Holmes et al., 2021). 

Aqui estão algumas etapas e diretrizes que você pode seguir para montar um programa abrangente de prevenção e conscientização sobre suicídio para sua escola. 

  

PLANEJAMENTO  

  1. Identifique as principais partes interessadas na escola que desempenharão um papel no processo: O Conselheiro Escolar, Orientador educacional, Psicólogo, Conselheiro Pastoral devem desempenhar um papel fundamental nesse processo. Se a escola não tiver esses recursos ou alguém com treinamento semelhante, deve procurar uma parceria com uma agência externa. Uma agência local de aconselhamento cristão ou hospital pode ter excelentes recursos disponíveis para as escolas (de preferência com cosmovisão cristã). 
  2. Garanta o apoio administrativo e dos membros do conselho ou de toda a liderança da escola: É importante ter a adesão de todas as partes envolvidas. A colaboração e uma abordagem em equipe servirão melhor à escola.  
  3. Certifique-se de que políticas e procedimentos adequados estejam em vigor: Todos devem saber o que fazer se forem confrontados com uma situação. Deve haver instruções claras sobre quem eles devem contatar e quais procedimentos devem tomar.  

  

PREVENÇÃO UNIVERSAL  

  1. Todos os professores e funcionários devem passar por treinamento: Inclua treinadores, zeladores, funcionários do refeitório, auxiliares, motoristas de ônibus, etc. Os alunos geralmente confiam em alguém que conhecem e com quem construíram um relacionamento. É importante que todos os adultos na escola sejam treinados em prevenção e conscientização sobre o suicídio. 
  2. O treinamento não é algo que acontece uma única vez: Deve ser parte regular do desenvolvimento profissional para garantir que todos os funcionários estejam cientes das políticas e procedimentos, bem como dos sinais e sintomas a serem observados. 
  3. Recursos e ferramentas para os pais devem ser disponibilizados prontamente.  
  4. Os alunos devem se envolver em um currículo de prevenção ao suicídio: Procure um programa baseado em evidências. Se não vier de uma perspectiva bíblica, certifique-se de que apoie a cultura e a visão/missão da sua escola.  
  5. A triagem básica de alunos pode ser uma ferramenta útil para identificar aqueles que estão lutando com ideação suicida ou fizeram uma tentativa anterior: Todos os envolvidos na implementação devem ser treinados para saber como administrar a triagem e decidir quais medidas de acompanhamento devem ser tomadas. 

 

Educar a comunidade escolar sobre os sinais de suicídio, assim como sobre as políticas para auxiliar alunos em risco, é fundamental para criar um ambiente de apoio e segurança. Ao abordar a saúde mental e o bem-estar como parte integrante das conversas cotidianas, reduzimos o estigma que muitas vezes cerca esses temas, permitindo que sejam discutidos de forma aberta e sem preconceitos. Isso contribui para uma mudança positiva no clima escolar, promovendo um ambiente onde os alunos possam desenvolver empatia e apoio mútuo. Quando destacamos os pontos fortes de cada aluno e enfatizamos que Deus deseja o melhor para eles, nos engajamos em um diálogo que é tanto edificante quanto encorajador, promovendo uma cultura de cuidado e valorização da vida. 

  

INTERVENÇÃO 

  1. Comece a construir uma rede de recursos para alunos e famílias: Desenvolva um processo de encaminhamento e construa uma rede de profissionais para consultar quando surgirem questões sérias. Esta é uma excelente oportunidade para construir relações comunitárias. Agências locais de aconselhamento, pediatras e hospitais podem ter recursos incríveis e podem estar procurando mais maneiras de educar a comunidade sobre esse importante tema. 
  2. Se um aluno for hospitalizado ou estiver passando por terapia e precisará faltar à escola, tenha um plano de recuperação: Se possível, obtenha uma cópia do plano de segurança do hospital ou terapeuta. Tenha um plano de reintegração em vigor. 
  3. Se o suicídio ocorrer em sua comunidade escolar, deve haver um plano de posvenção: É difícil formar um plano ou tomar grandes decisões quando a tragédia acontece. É melhor ter algo preparado antecipadamente que permita que a escola responda às necessidades da família, dos alunos, dos funcionários, etc. Isso pode incluir chamar pastores locais, conselheiros escolares adicionais ou outros profissionais de saúde mental. 

 

Lembre-se de que a conscientização e a prevenção do suicídio podem salvar uma vida! Embora possa ser intimidador colocar isso em prática, precisamos começar a tomar as medidas para sermos informados, educar nossa equipe e fornecer triagem e recursos para as crianças e jovens incríveis que Deus nos confiou.   

Para um recurso maravilhoso sobre saúde mental em escolas cristãs, certifique-se de ler (somente em inglês) Leading Insights: Mental Health and Well-Being (1ª ed.) da ACSI. Associate of Christian Schools International. https://your.acsi.org/leadinginsights#MHWB   

  

Referências:  

Fortuna, L. R., Brown, I. C., Lewis Woods, G. G., & Porche, M. V. (2023). The Impact of COVID-19 on Anxiety Disorders in Youth: Coping with Stress, Worry, and Recovering from a Pandemic. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 32(3), 531–542. https://doi.org/10.1016/j.chc.2023.02.002  

Granello, D. H., Granello, P. F., & Juhnke, G. A. (2022). Suicide and Self-Injury in Schools: Interventions for School Mental Health Specialists. Oxford University Press.  

Holmes, G., Clacy, A., Hermens, D. F., & Lagopoulos, J. (2021). The Long-Term Efficacy of Suicide Prevention Gatekeeper Training: A Systematic Review. Archives of Suicide Research, 25(2), 177–207. https://doi.org/10.1080/13811118.2019.1690608  

Katz, C., Bolton, S.-L., Katz, L. Y., Isaak, C., Tilston-Jones, T., & Sareen, J. (2013). A Systematic Review of School-Based Suicide Prevention Programs. Depression and Anxiety, 30(10), 1030–1045. https://doi.org/10.1002/da.22114  

NCIPC-Suicide-FactSheet-508_FINAL.pdf. (n.d.).  

SAMHSA Releases 2020 National Survey on Drug Use and Health. (2021, October 26). https://www.samhsa.gov/newsroom/press-announcements/202110260320  

The national mental health crisis. (n.d.). Https://Www.Apa.Org. Retrieved January 21, 2024, from https://www.apa.org/monitor/2021/01/trends-national-crisis  

   

 

Nota de Rodapé: O conteúdo apresentado neste artigo foi disponibilizado pela ACSI USA e reflete a realidade norte-americana em relação ao tema abordado. Recomendamos que sejam feitas adaptações para o contexto brasileiro para garantir a relevância e eficácia das abordagens. Para orientações mais práticas e específicas sobre a valorização da vida no contexto escolar brasileiro, disponibilizamos um guia prático para as escolas associadas. Este guia inclui atividades recomendadas e cuidados necessários adaptados à realidade local.

 

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Sobre o autor: 

Nancy Gillespie é uma conselheira escolar experiente com um histórico comprovado de trabalho colaborativo e profissional para criar e implementar um programa abrangente de aconselhamento escolar na Grove City Christian em Ohio. Ela é conselheira escolar licenciada há 16 anos e atuou como supervisora de mais de 25 conselheiros escolares de nível de mestrado em treinamento. Ela é apaixonada por sua função e está convencida de que tem o melhor trabalho do mundo, pois investe na vida de jovens. Para melhor atender seus alunos e famílias, Nancy está cursando um Ph.D. em Educação e Supervisão de Conselheiros pela Ohio State University. Seus interesses de pesquisa incluem saúde mental de adolescentes, interrupções da COVID, os efeitos da tecnologia em adolescentes e ativos de desenvolvimento. Ela foi fundamental para trazer a Mental Health & Well-Being Network para a ACSI e defende a saúde mental e o bem-estar de funcionários e alunos. Ela é apaixonada por seu papel como esposa de pastor, mãe e conselheira escolar. Nancy adora escrever, falar e compartilhar a incrível mensagem de esperança de Deus com as pessoas ao seu redor.  

 

Desacelerando para florescer: permissão para fazer uma pausa

Chegamos à metade do ano letivo, um momento em que podemos finalmente pausar, respirar fundo e refletir sobre o caminho percorrido até aqui. Como educadores cristãos, sabemos o quanto é importante o "tempo para cada situação", inclusive o descanso. A pausa escolar é mais do que apenas um período de desligamento; é uma oportunidade dada por Deus para o renovo do ânimo e confirmação da nossa missão como servos de Cristo na educação.

Alguns professores compartilham de uma rotina exaustiva que gera um esgotamento antecipado, principalmente mais perto do recesso. Talvez você esteja pensando que "preciso de um tempo para lembrar-me por que comecei a ensinar". Esse sentimento é compartilhado por muitos de nós. A Bíblia nos ensina, em Mateus 11:28, que Jesus disse: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso". Este é um convite para encontrar paz e renovo em Cristo, algo que devemos abraçar plenamente durante essas semanas.

Para permitir o florescimento em nossas escolas, é essencial parar certas coisas, assim como a prática de poda que, embora não seja glamorosa, é uma das habilidades mais eficazes do jardineiro. É mais fácil falar do que fazer, mas refletir sobre as coisas que precisamos aliviar ajudará a nos orientar mais claramente em direção ao nosso propósito principal. Não somos ensinados ou treinados para desacelerar, mas precisamos. Se considerarmos a vida de Jesus por um momento, Ele claramente esteve envolvido em muitas atividades, viajou para muitos lugares e conheceu muitas pessoas. E o vemos repetidamente se afastando das multidões e de seus discípulos para ficar sozinho, muitas vezes para orar. Jesus certamente poderia ter usado esse tempo sozinho para "fazer mais" — mas não o fez. Jesus é um exemplo de ritmo proposital e de alcançar pacientemente um propósito.

A decisão de quando e o que parar, embora pessoal, é igualmente uma atividade corporativa que pode fortalecer, libertar, respeitar e até mesmo salvar vidas. Embora o ritmo nunca diminua na educação, o que muitas vezes precisamos mais do que "fazer mais" é tempo para descansar, recarregar, refinar e reabastecer. A vida em toda a sua plenitude não significa literalmente uma agenda sem espaço ou uma organização sem margem de manobra — em vez disso, fala da sabedoria, perspectiva, planejamento, firmeza e confiabilidade. Escolas florescentes não esperam até que o solo esteja seco e rachado antes de regar as plantas — elas irrigam bem e frequentemente, tendo em mente que às vezes os sistemas de irrigação mais eficientes são invisíveis, cuidadosamente planejados abaixo da superfície.

Portanto, precisamos ser jardineiros cuidadosos. Então, conforme nos aproximamos do segundo semestre, vamos olhar para nossa lista de tarefas e, em vez de tentar adicionar, vamos considerar quais atividades precisam de mais atenção — não porque queremos fazer mais, mas porque focar no que é realmente importante nos proporciona (e à nossa equipe) mais espaço e produtividade. Afinal, somos apenas humanos, e isso é uma coisa boa.

Durante esse tempo, convido vocês a refletirem sobre o primeiro semestre. O que foi bem-sucedido? Quais foram os desafios? Como vocês cresceram pessoal e profissionalmente? Mais importante, como Deus trabalhou em suas vidas e nas vidas dos seus alunos? É essencial reconhecer esses momentos e agradecer a Deus por Sua orientação e provisão. A pausa nos dá a chance de ver nossas realizações e falhas através da lente da graça divina, sabendo que cada experiência é uma oportunidade de aprendizado e crescimento.

Aproveitem este recesso para fazer coisas que tragam alegria e descanso verdadeiro. Pode ser um momento para ler aquele livro que está na prateleira há meses, para passar tempo de qualidade com a família, ou simplesmente para descansar e contemplar a beleza da criação de Deus. Esses momentos de pausa são preciosos para renovarmos nosso ânimo e voltarmos ao nosso chamado com um coração mais leve. Também podemos nos dedicar a atividades cotidianas que trazem grande alegria e satisfação. Cozinhar uma refeição especial para a família, cultivar um jardim, praticar um hobby que foi deixado de lado ou fazer uma visita surpresa a um amigo. Essas pequenas ações, embora simples, podem ser uma oportunidade de criar novos hábitos para o segundo semestre.

Vamos refletir sobre o nosso tema do ano "InspiraAção" com base em Tito 2:7, que diz: "Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade". Inspirar nossos alunos a seguir bons exemplos é uma responsabilidade tremenda e uma honra. No entanto, para sermos esses modelos que eles precisam, devemos primeiro cuidar de nós mesmos. Este período de pausa é essencial para reabastecermos nosso "cartucho de tinta", para que possamos continuar a oferecer um ensino que não apenas educa, mas também inspira e influencia vidas.

Por fim, encorajo vocês a usarem este tempo para planejar o próximo semestre com uma nova perspectiva. Peçam a Deus direção para as decisões a serem tomadas e sabedoria para enfrentar os desafios que virão. Lembrem-se de que não estamos sozinhos nessa jornada; Deus está conosco em cada passo. Que vocês retornem ao trabalho revigorados e inspirados, prontos para continuar fazendo a diferença na vida dos seus alunos, iluminando o caminho com o amor e a verdade de Cristo.

 

Que Deus abençoe cada um de vocês durante este recesso, renovando suas forças e trazendo paz aos seus corações.

Murilo Tchmola

Coordenador de Marketing e Projetos – ACSI BRASIL

 

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Nota: adaptação do livro “Flourishing Together: A Christian Vision for Students, Educators, and Schools”,  de Lynn E. Swaner e Andy Wolfe.