"Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." — 2 Timóteo 1:7
Saúde mental e bem-estar não são conceitos novos. Embora a Escritura não use o termo "saúde mental", somos lembrados ao longo da Bíblia sobre o desejo de Deus que tenhamos paz e “que lancemos sobre Ele todas as nossas ansiedades” (1 Pedro 5:7) e ainda que “não andemos ansiosos por coisa alguma” (Filipenses 4:6). No mundo de hoje, marcado por traumas, feridas e estresse, experimentar paz de espírito e saúde mental plena pode ser mais fácil falar do que viver. De acordo com o relatório de tendências de 2021 da American Psychological Association, a América está enfrentando uma crise de saúde mental. Os números podem ajudar a descrever a crise que enfrentamos.
- Em 2020, 4,1 milhões de adolescentes de 12 a 17 anos tiveram pelo menos um episódio depressivo grave.
- No mesmo grupo etário, 3 milhões de adolescentes (12%) tiveram pensamentos sérios de suicídio, 1,3 milhão (5,3%) fizeram um plano de suicídio e 629 mil (2,5%) tentaram o suicídio (SAMHSA Releases 2020 National Survey on Drug Use and Health, 2021).
- Nos primeiros 10 meses de 2020, houve um aumento de 151% em ideação suicida, tentativas de suicídio e autolesão entre adolescentes de 10 a 14 anos.
- As lutas com ansiedade generalizada e transtornos de ansiedade específicos mais do que dobraram durante a pandemia, aumentando o sofrimento psicológico dos jovens (Fortuna et al., 2023).
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre crianças de 10 a 14 anos e a terceira entre a faixa de 15 a 24 anos (NCIPC-Suicide-FactSheet). Essas estatísticas devem nos preocupar, pois sabemos o quanto Deus valoriza cada um de Seus filhos.
COMO EDUCADORES, O QUE PODEMOS FAZER?
Prevenção ao suicídio é um assunto que muitas vezes evitamos discutir. É complicado, pessoal e, se formos honestos, um pouco assustador. Mas essas coisas não devem nos impedir de ter um plano em vigor. Nossas escolas e nossos alunos não estão isentos da crise atual. Estudos demonstraram que alguns programas de prevenção ao suicídio nas escolas podem ser eficazes não apenas na criação de consciência e conhecimento sobre o suicídio, mas também na redução do número de tentativas de suicídio entre os alunos em risco (Katz et al., 2013).
Um outro ponto positivo dos programas de prevenção ao suicídio é educar os alunos sobre o comportamento de busca por ajuda para si mesmo ou para um amigo. Incentivar os alunos a identificarem adultos de confiança dentro e fora da escola é fundamental. Programas de prevenção ao suicídio são úteis não apenas para os alunos, mas também para a equipe. Educar a equipe e fornecer políticas, procedimentos e recursos é benéfico para aumentar a conscientização entre os adultos na escola. Professores e funcionários devem ser treinados para reconhecer os sinais de suicídio e saber o que fazer se uma situação surgir. Embora eles possam não ter treinamento clínico, eles são os "porteiros" que frequentemente ouvem as necessidades ou preocupações dos alunos em primeira mão. O treinamento dá aos professores as ferramentas e os recursos de que precisam para lidar com situações com um pouco mais de confiança e conhecimento do que fazer em uma crise que envolva ideação suicida ou uma tentativa (Holmes et al., 2021).
Aqui estão algumas etapas e diretrizes que você pode seguir para montar um programa abrangente de prevenção e conscientização sobre suicídio para sua escola.
PLANEJAMENTO
- Identifique as principais partes interessadas na escola que desempenharão um papel no processo: O Conselheiro Escolar, Orientador educacional, Psicólogo, Conselheiro Pastoral devem desempenhar um papel fundamental nesse processo. Se a escola não tiver esses recursos ou alguém com treinamento semelhante, deve procurar uma parceria com uma agência externa. Uma agência local de aconselhamento cristão ou hospital pode ter excelentes recursos disponíveis para as escolas (de preferência com cosmovisão cristã).
- Garanta o apoio administrativo e dos membros do conselho ou de toda a liderança da escola: É importante ter a adesão de todas as partes envolvidas. A colaboração e uma abordagem em equipe servirão melhor à escola.
- Certifique-se de que políticas e procedimentos adequados estejam em vigor: Todos devem saber o que fazer se forem confrontados com uma situação. Deve haver instruções claras sobre quem eles devem contatar e quais procedimentos devem tomar.
PREVENÇÃO UNIVERSAL
- Todos os professores e funcionários devem passar por treinamento: Inclua treinadores, zeladores, funcionários do refeitório, auxiliares, motoristas de ônibus, etc. Os alunos geralmente confiam em alguém que conhecem e com quem construíram um relacionamento. É importante que todos os adultos na escola sejam treinados em prevenção e conscientização sobre o suicídio.
- O treinamento não é algo que acontece uma única vez: Deve ser parte regular do desenvolvimento profissional para garantir que todos os funcionários estejam cientes das políticas e procedimentos, bem como dos sinais e sintomas a serem observados.
- Recursos e ferramentas para os pais devem ser disponibilizados prontamente.
- Os alunos devem se envolver em um currículo de prevenção ao suicídio: Procure um programa baseado em evidências. Se não vier de uma perspectiva bíblica, certifique-se de que apoie a cultura e a visão/missão da sua escola.
- A triagem básica de alunos pode ser uma ferramenta útil para identificar aqueles que estão lutando com ideação suicida ou fizeram uma tentativa anterior: Todos os envolvidos na implementação devem ser treinados para saber como administrar a triagem e decidir quais medidas de acompanhamento devem ser tomadas.
Educar a comunidade escolar sobre os sinais de suicídio, assim como sobre as políticas para auxiliar alunos em risco, é fundamental para criar um ambiente de apoio e segurança. Ao abordar a saúde mental e o bem-estar como parte integrante das conversas cotidianas, reduzimos o estigma que muitas vezes cerca esses temas, permitindo que sejam discutidos de forma aberta e sem preconceitos. Isso contribui para uma mudança positiva no clima escolar, promovendo um ambiente onde os alunos possam desenvolver empatia e apoio mútuo. Quando destacamos os pontos fortes de cada aluno e enfatizamos que Deus deseja o melhor para eles, nos engajamos em um diálogo que é tanto edificante quanto encorajador, promovendo uma cultura de cuidado e valorização da vida.
INTERVENÇÃO
- Comece a construir uma rede de recursos para alunos e famílias: Desenvolva um processo de encaminhamento e construa uma rede de profissionais para consultar quando surgirem questões sérias. Esta é uma excelente oportunidade para construir relações comunitárias. Agências locais de aconselhamento, pediatras e hospitais podem ter recursos incríveis e podem estar procurando mais maneiras de educar a comunidade sobre esse importante tema.
- Se um aluno for hospitalizado ou estiver passando por terapia e precisará faltar à escola, tenha um plano de recuperação: Se possível, obtenha uma cópia do plano de segurança do hospital ou terapeuta. Tenha um plano de reintegração em vigor.
- Se o suicídio ocorrer em sua comunidade escolar, deve haver um plano de posvenção: É difícil formar um plano ou tomar grandes decisões quando a tragédia acontece. É melhor ter algo preparado antecipadamente que permita que a escola responda às necessidades da família, dos alunos, dos funcionários, etc. Isso pode incluir chamar pastores locais, conselheiros escolares adicionais ou outros profissionais de saúde mental.
Lembre-se de que a conscientização e a prevenção do suicídio podem salvar uma vida! Embora possa ser intimidador colocar isso em prática, precisamos começar a tomar as medidas para sermos informados, educar nossa equipe e fornecer triagem e recursos para as crianças e jovens incríveis que Deus nos confiou.
Para um recurso maravilhoso sobre saúde mental em escolas cristãs, certifique-se de ler (somente em inglês) Leading Insights: Mental Health and Well-Being (1ª ed.) da ACSI. Associate of Christian Schools International. https://your.acsi.org/leadinginsights#MHWB
Referências:
Fortuna, L. R., Brown, I. C., Lewis Woods, G. G., & Porche, M. V. (2023). The Impact of COVID-19 on Anxiety Disorders in Youth: Coping with Stress, Worry, and Recovering from a Pandemic. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 32(3), 531–542. https://doi.org/10.1016/j.chc.2023.02.002
Granello, D. H., Granello, P. F., & Juhnke, G. A. (2022). Suicide and Self-Injury in Schools: Interventions for School Mental Health Specialists. Oxford University Press.
Holmes, G., Clacy, A., Hermens, D. F., & Lagopoulos, J. (2021). The Long-Term Efficacy of Suicide Prevention Gatekeeper Training: A Systematic Review. Archives of Suicide Research, 25(2), 177–207. https://doi.org/10.1080/13811118.2019.1690608
Katz, C., Bolton, S.-L., Katz, L. Y., Isaak, C., Tilston-Jones, T., & Sareen, J. (2013). A Systematic Review of School-Based Suicide Prevention Programs. Depression and Anxiety, 30(10), 1030–1045. https://doi.org/10.1002/da.22114
NCIPC-Suicide-FactSheet-508_FINAL.pdf. (n.d.).
SAMHSA Releases 2020 National Survey on Drug Use and Health. (2021, October 26). https://www.samhsa.gov/newsroom/press-announcements/202110260320
The national mental health crisis. (n.d.). Https://Www.Apa.Org. Retrieved January 21, 2024, from https://www.apa.org/monitor/2021/01/trends-national-crisis
Nota de Rodapé: O conteúdo apresentado neste artigo foi disponibilizado pela ACSI USA e reflete a realidade norte-americana em relação ao tema abordado. Recomendamos que sejam feitas adaptações para o contexto brasileiro para garantir a relevância e eficácia das abordagens. Para orientações mais práticas e específicas sobre a valorização da vida no contexto escolar brasileiro, disponibilizamos um guia prático para as escolas associadas. Este guia inclui atividades recomendadas e cuidados necessários adaptados à realidade local.
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Sobre o autor:
Nancy Gillespie é uma conselheira escolar experiente com um histórico comprovado de trabalho colaborativo e profissional para criar e implementar um programa abrangente de aconselhamento escolar na Grove City Christian em Ohio. Ela é conselheira escolar licenciada há 16 anos e atuou como supervisora de mais de 25 conselheiros escolares de nível de mestrado em treinamento. Ela é apaixonada por sua função e está convencida de que tem o melhor trabalho do mundo, pois investe na vida de jovens. Para melhor atender seus alunos e famílias, Nancy está cursando um Ph.D. em Educação e Supervisão de Conselheiros pela Ohio State University. Seus interesses de pesquisa incluem saúde mental de adolescentes, interrupções da COVID, os efeitos da tecnologia em adolescentes e ativos de desenvolvimento. Ela foi fundamental para trazer a Mental Health & Well-Being Network para a ACSI e defende a saúde mental e o bem-estar de funcionários e alunos. Ela é apaixonada por seu papel como esposa de pastor, mãe e conselheira escolar. Nancy adora escrever, falar e compartilhar a incrível mensagem de esperança de Deus com as pessoas ao seu redor.