O QUE É EDUCAÇÃO CRISTÃ?
O que é “educação cristã” (EC)? Há diferentes respostas a esta pergunta. Eu gostaria de sugerir que, como o nome já indica, EC é aquela educação feita do ponto de vista do cristianismo. Com isto, não quero me referir à simples inclusão no currículo escolar de disciplinas que tratem da Bíblia ou de temas do Cristianismo. Nem ainda contratar professores evangélicos para dar disciplinas regulares de um currículo, nem providenciar para os alunos serviço de capelania, devocionais e cultinhos durante a semana. Assim, escolas cristãs não são simplesmente aquelas ligadas a uma igreja ou denominação, aplicando regras evangélicas de conduta. Todas estas coisas são boas e importantes, mas penso que a EC vai mais além disto.
A EC é um processo de treinamento e desenvolvimento da pessoa e de seus dons naturais à luz da perspectiva cristã da vida, da realidade, do mundo e do homem. Isto significa o desenvolvimento de um currículo e um programa educacional onde as disciplinas e atividades reflitam explicitamente a mentalidade cristã. Em outras palavras, é ensinar ciências, história, comunicação, sociologia, etc. a partir dos pressupostos cristãos. É adotar teorias e filosofias do desenvolvimento humano e da educação que reflitam o ensino bíblico sobre o homem como imagem de Deus porém moral e espiritualmente decaído. É desenvolver a educação num ambiente distintamente cristão, onde se espera que haja mais disciplina, eficácia e bom relacionamento entre professores e alunos do que no ensino público ou particular secularizados. É promover o desenvolvimento do caráter, disciplina, conduta e um relacionamento profundo com Deus.
O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DOS PRESSUPOSTOS
Isto nos leva ao ponto seguinte, que é o papel dos pressupostos na EC. Chamamos de pressupostos da educação o conjunto de crenças, premissas e pré-convicções que criam avenidas pelas quais o entendimento, o conhecimento e o aprendizado se processam. Os pressupostos formam o que podemos nos referir como a mentalidade por detrás do processo educacional. É importante nos conscientizarmos da importância dos pressupostos em relação à EC, pois não existe neutralidade na pesquisa, no conhecimento, no aprendizado e no processo educacional. A neutralidade na pesquisa, nos estudos e na análise foi uma ilusão da modernidade já desbancada pela pós-modernidade ou alta-modernidade.
A mentalidade, que é formada pelos pressupostos, controla o ensino, a escolha de livros, de professores, a metodologia e o currículo. Por exemplo, a educação secular se processa a partir de uma mentalidade dominada pela secularização, filosofias e métodos anticristãos, agnósticos ou ateístas. Uma mentalidade cristã para a educação, em oposição a uma mentalidade secularizada, deveria ser moldada pelos pressupostos fundamentais do cristianismo, como por exemplo: ser orientada pelo sobrenatural (em oposição ao naturalismo); ver a vida da perspectiva da eternidade, do céu e do inferno; ver a história da perspectiva da providência de Deus; ver o mundo da perspectiva da Criação; ter consciência da presença do mal; reconhecer a corrupção íntima e inerente da raça humana, como raiz de toda sorte de males; afirmar a existência da verdade; aceitar a autoridade das Escrituras; preocupar-se com as pessoas. A EC, portanto, trata todas as áreas do conhecimento (ciências humanas, naturais, exatas, sociais, comunicação, etc.) a partir de uma mentalidade cristã, formada pelo ensino bíblico. É a integração de educação e teologia no ensino, desde o primário até o superior.
POR QUE INVESTIR NA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Deixe-me tentar justificar teologicamente a necessidade imperiosa de formarmos escolas e universidades verdadeiramente cristãs, ou ainda, de levar as que já existem para um ministério verdadeiramente cristão. Primeiro, temos o assim chamado mandato cultural, que foi a ordem de Deus ao homem para dominar a criação (Gen.1.27-28). Obedecer a este mandato significa pesquisar, estudar, entender e assim dominar a criação. Tudo isto há de ser feito da perspectiva da fé, reconhecendo a criação como oriunda de Deus. O mandato cultural não ficou anulado pela queda do homem.
Segundo, o Senhorio de Cristo. Cristo está exaltado e tem autoridade sobre todo o cosmos. Sua redenção e seu domínio têm um aspecto cósmico: abrangem a criação inteira, não somente a humanidade. A redenção inclui a redenção não somente da alma, mas da mente, do corpo – e tem profundas implicações sociais, econômicas, políticas, intelectuais. A fundação da Academia de Genebra por Calvino partiu desta perspectiva.
Terceiro, a Grande Comissão, “fazei discípulos de todas as nações”. O discipulado envolve o desenvolvimento espiritual, intelectual, a formação de uma mentalidade cristã, o desenvolvimento das aptidões naturais. Tudo isto deve ser feito desde cedo, com as crianças, a começar da escola. Assim, a EC faz parte da comissão para discipularmos todas as nações.
Quarto, a natureza do homem. O homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus. Todo conhecimento dele é religioso (Rm 1). Portanto, a educação realizada na academia secular também é religiosa, muito embora não seja cristã. É idólatra, pois coloca homem como medida, centro e fim da educação (humanismo). Por outro lado, houve a queda e suas conseqüências. O pecado afeta o modo pelo qual o homem entende, aprende e se comunica. A educação secular se processa através de pressupostos e filosofias anti-deus, que refletem a rebeldia e a revolta do homem contra o Criador. Portanto, é necessário educar a partir da perspectiva religiosa correta, ou seja, o cristianismo.
Dr. Augustus Nicodemos Lopes é educador, autor, conferencista, pastor Presbiteriano, Mestre em Novo Testamento e Doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary, Filadélfia, e pela Unversidade Reformada de Kampen, Holanda. Atualmente é Chanceler da Universidade e Instituto Presbiteriano Mackenzie, São Paulo.